O misterioso Açude Velho dos Caboclos – CE

em 23/09/2014

(foto de: Reinaldo Coutinho)
Saudações meus amigos e amigas. Hoje volto a falar de um mistério antigo ambientado no Brasil. O tema de hoje é uma estranha construção de pedra que se localiza na cidade cearense de Tauá. O texto foi originalmente escrito pelo geólogo Reinaldo Coutinho (ver fontes ao final), que fez parte do grupo de estudiosos que, com ajuda de moradores locais, encontraram essa impressionante construção de pedras feita num passado muito distante. Eu adaptei o texto do Senhor Coutinho a respeito do Açude Velho dos Caboclos, e ao final da postagem trago a vocês outras curiosidades sobre a região onde tal achado foi feito.


Nos anos de 1983 um grupo de pesquisadores realizavam um estudo geológico no sertão de Tauá, a 337 Km de Fortaleza. Durante uma conversa com moradores locais, os pesquisadores perguntaram se eles conheciam algum ponto nos arredores onde eles poderiam encontrar rochas com inscrições rupestres, ou formações rochosas interessantes. O espanto foi imenso quando os sertanejos afirmaram conhecer uma represa de pedra que teria sido construída pelos fenícios.

Um povo tão simples fazendo referências a fenícios foi algo que impressionou o grupo de pesquisadores, até porque naqueles anos as teorias sobre a presença fenícia no Brasil eram pouco discutidas em programas de TV, tampouco em rádios. Estendendo a conversa sobre o assunto, os pesquisadores descobriram que tais pessoas não tinham muita noção de quem seriam os fenícios, e que tal história teria sido transmitida a eles por seus avós.

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Curiosos o grupo de estudiosos pediu se algum dos presentes poderia mostrar a eles o local, cujo nome era Açude Velho dos Caboclos, o que foi prontamente atendido. A palavra cabôco (caboclo), é como o próprio sertanejo nordestino costuma chamar os antigos indígenas que habitam a região, quando querem se referir a algum vestígio arqueológico, como restos de cerâmicas ou pinturas rupestres. Os sertanejos dizem que esses artefatos são coisas dos “Cabôcos”.

O tal açude se localiza a uns 12 km ao norte da cidade de Tauá, próximo de um lugarejo chamando de Cruzeta, distante uns 2 km da BR-020. A construção de pedra está situada em um lugar de fácil acesso ao lado de uma propriedade rural.

(foto de: Reinaldo Coutinho)
O açude é formado pelas águas de um riacho local. As paredes de pedra possuem formas retangulares e ângulos precisos o que indica que foram trabalhadas por hábeis mãos humanas. As rochas usadas na construção são oriundas da própria região. O padrão retilíneo da construção chega a assustar.

(foto de: Reinaldo Coutinho)
Os blocos de pedra foram trabalhados de modo a encaixarem perfeitamente uns aos outros, sendo que em alguns pontos é impossível se introduzir a lâmina de uma faca entre as pedras, algo muito comum em construções Incas por exemplo. Em algumas frestas, foram colocados fragmentos de rocha, fazendo assim uma vedação.

(foto de: Reinaldo Coutinho)
E paredão de pedra trabalhada possui uma espessura de dois metros.

Ao lado do açude pode-se observar um aterro, que pode até possuir origem natural, porém parece que o mesmo é aproveitado para represar as águas do açude, o que pode indicar que o mesmo também teria sido construído.

(foto de: Reinaldo Coutinho)
Depois da primeira visita ao local o grupo de pesquisadores voltou a conversar com os moradores a respeito da estranha construção de pedra, e os moradores voltaram a afirmar que as histórias a respeito da represa foi contada, com certo ar de mistério, por seus avós. O motivo pelo qual a história mencionava os fenícios ninguém soube informar. Seria essa uma obra de um povo anterior ao descobrimento do Brasil? Pelo menos do descobrimento como os livros de história ensinam?

No retorno da cidade de Fortaleza os pesquisadores procuraram alguma bibliografia a respeito, encontrando uma pequena e lacônica nota sobre o assunto, escrito por um historiador tradicionalista. Fazia referência não apenas ao Açude Velho dos Caboclos, mas a vários outros dos sertões cearenses.

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Como o historiador que escreveu tal nota era um tanto tradicionalista, logo uma pessoa avessa a mistérios e discussões a respeito da presença de outros povos de alem mar no Brasil antes da chegada de Cabral. O historiador em questão era Thomaz Pompeu Sobrinho (1880-1977). A nota desse famoso historiador cearense falava que, não apenas o Açude Velho dos Caboclos, mas todos os outros mencionados no texto, foram construídos em épocas pré-históricas. Segundo o texto, eles teriam sido construídos por indígenas para se prevenirem das estiagens.

A afirmação de que tais açudes tivessem sido construídos por indígenas fere uma das grandes afirmações da arqueologia tradicional: a afirmação de que os indígenas brasileiros não realizavam construções em pedra. Muitos são os textos que afirmam que os indígenas brasileiros possuem aptidão a serem nômades, logo parece estranho creditar a eles a construção de tais represas, não apenas pelo material empregado em tal construção, mas também porque a criação de um açude implica em sedentarismo e uma organização social mais complexa.

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O estranho é que mesmo passados tantos anos após essa descoberta, o assunto parece que nunca despertou interesse de universidades e órgãos de proteção ao patrimônio cultural, pois nenhum estudo mais aprofundado foi realizado no local. Ou será que aqueles que seriam responsáveis por tais estudos decidiram dar as costas a esses açudes represados com pedras trabalhadas assim como fizeram com as ruínas de Natividade da Serra (clique AQUI para conhecer)?

A cidade Encantada de Pedra

As construções mencionadas no texto acima não são as únicas curiosas estruturas de pedra que podem ser encontrada nos arredores da cidade de Tauá.

João Mocó, um sertanejo empenhado em vasculhar a região
em busca de novos achados pictóricas (foto de: Arqueologia Social)
No sertão dos Inhamuns encontra-se um lugar conhecido com “A cidade encantada de Pedra”, onde podem ser avistadas estranhas formações, onde pedras parecem cuidadosamente equilibradas umas sobre as outras. Na cidade encantada também se pode observar painéis pictóricos, onde o dia a dia do nativo da região é o tema central de pinturas feitas principalmente com os dedos. Outros recursos como cipó e espinhos também foram utilizados em algumas minúsculas e delicadas figuras de até 2 cm. Algumas figuras humanas aparecem em movimento e se apresentam com o corpo quadrado preenchido com pequenos pontos, lembrando o Estilo Serra Branca.

Pedra chamada "Torre do Castelo"(foto de: Arqueologia Social)
O vale do Riacho Carrapateiras visto do alto apresenta-se aos olhos da imaginação como a profética lenda dos Kariri: Uma imensa cidade encantada de pedra, onde em cada pedreira o testemunho milenar de grupos caçadores coletores está registrado. Os grupos humanos utilizaram como suporte para a prática pictórica as rochas cristalinas às margens do Carrapateiras ou rochas associadas a um dos seus afluentes. Como preferência, as altas pedreiras foram utilizadas de onde estrategicamente pode-se observar todo o vale e numerosos outros abrigos pintados ao redor, como uma pretérita ‘cidade de pedra’. Outros grupos pintaram em um plano mais baixo, nas pedreiras junto a tanques naturais de água, um aparente balneário pré-histórico.

Tanques naturais do Açude Carrapateiras (foto de: Arqueologia Social)
(foto de: Arqueologia Social)
Por do sol mostrando ao fundo a Torre do Castelo (foto de: Arqueologia Social)
Como atrativos culturais o município de Tauá possui três sítios paleontológicos e 15 arqueológicos, que podem ser visitados, porém só podem ser explorados por pesquisadores profissionais e cadastrados.

(foto de: Arqueologia Social)
(foto de: Arqueologia Social)
O maior ícone natural é o Serrote Quinamuiú. Ele pode ser avistado de qualquer ponto da cidade.

Serrote Quinamuiú, que pode ser visto de várias partes de Tauá

Caverna do Serrote Quinamuiú
Fontes: Arqueologia Social, Arqueolovia e Wikipédia

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Um comentário:

  1. Já disse isso várias vezes e digo mais uma: Cabral não descobriu o Brasil, ele veio somente tomar posse.

    E se brasileiro não fosse tão vagabundo (não quero ofender ninguém, pois também sou brasileiro), teríamos uma rica cultura mostrando que muito dela não veio somente dos europeus do século XVI em diante.

    É uma pena a falta de interesse das pessoas pelo conhecimento, por debater teorias e enriquecer mais a nossa cultura tão ignorada.

    ResponderExcluir

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