Rostov: A cidade dos serial killers

em 15/12/2017


A Copa do Mundo se aproxima e muito será dito sobre os atrativos de Rostov (ou Rostov-on-Don), palco do primeiro jogo da seleção brasileira, contra a Suíça, no dia 17 de junho. Mas, apesar de sua importância histórica e econômica, a cidade no sudoeste da Rússia é conhecida como a "capital mundial dos serial killers".

Uma breve pesquisa na internet já revela essa desagradável alcunha. São muitas as reportagens e livros que abordam a estranha capacidade da cidade em produzir assassinos em série. Desde a década de 90, pelo menos trinta deles foram descobertos na região. Uma "tradição" que começou com o mais famoso serial killer russo: Andrei Chikatilo.

O açougueiro de Rostov


Os crimes de Chikatilo já forma retratados em uma matéria especial aqui no blog Noite Sinistra (clique AQUI para ler essa matéria), mas abaixo traremos algumas informações mais resumida a respeito do caso.

Entre 1978 e 1990, o ucraniano matou, com requintes de sadismo e crueldade, pelo menos 53 pessoas na área de Rostov. Pai de família, membro do partido comunista e com alto grau de instrução, Chikatilo demorou a ser pego porque, à época, um homem com esse perfil dificilmente era considerado suspeito pela polícia soviética.


Ele se livrou até mesmo quando foi descoberto carregando um verdadeiro "Kit assassinato". Foi em uma estação de trem em 1984. Abordado pela polícia, revelou que carregava uma faca na maleta, além de outros instrumentos para lá de suspeitos. Chegou a ter o sangue testado, mas os ultrapassados métodos científicos empregados na União Soviética não indicaram compatibilidade com os fluidos encontrados nas vítimas.

Por trás da imagem do “perfeito homem soviético” residia uma alma atormentada pelo passado e pela impotência sexual. Chikatilo nasceu em 1936, quando a Ucrânia ainda se recuperava da fome em massa que a devastou. Nos anos 30, cerca de cinco milhões de pessoas morreram de fome na União Soviética, muitas dessas pessoas residiam na Ucrânia.

Quatro milhões delas estavam na Ucrânia, que por razões políticas foi deixada deliberadamente sem alimentos pelo então ditador Josef Stalin. Historiadores e testemunhas desse período relataram que os ucranianos recorreram até ao canibalismo para sobreviver, e o irmão de Chikatilo teria sido uma das vítimas. Pelo menos, era o que sua mãe lhe dizia: para ele tomar cuidado se não quisesse ter o mesmo fim do irmão, sequestrado e literalmente comido.

Esse trágico episódio da humanidade acabou se tornando conhecido "Holodomor, a grande fome ucraniana", e foi tema de uma das matérias mais acessadas aqui do blog Noite Sinistra (clique AQUI para ler a matéria completa sobre a terrível fome e os atos desesperados de canibalismo).


Para piorar, o pai de Chikatilo foi capturado pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Ele voltou para casa em 1949, mas, a despeito da vitória no conflito, inspirava vergonha e humilhação: os soldados de Stalin deveriam morrer em batalha ou vencê-la. Ser pego pelo inimigo não era uma alternativa digna.

Mesmo com essa infância problemática, Chikatilo fez faculdade, arranjou emprego como professor, casou-se e teve dois filhos. Havia, porém, o outro componente em seu caldo de perturbações pessoais. O futuro serial killer tinha sérias disfunções sexuais, a ponto de, especula-se, só conseguir engravidar a mulher masturbando-se e inserindo o sêmen na parceira.

Suas vestes de “cidadão normal” caíram quando, em 1978, Chikatilo começou a usar um casebre para molestar uma garota de nove anos. Ele acabou por matá-la a facadas e passou dois anos sem cometer outro crime. Mas as pulsões homicidas voltaram, e o número de vítimas explodiu ao longo dos anos 80.

O julgamento de Chikatilo aconteceu durante seis meses em 1992. No tribunal, ele ficava em uma jaula para não ser atacado pela turba revoltada de parentes das vítimas. Acabou condenado à morte e executado com um tiro na nuca em 1994. Chikatilo entrou para a história como o “açougueiro de Rostov”, mas fazê-lo confessar os crimes foi uma tarefa difícil.

Após ver todos seus métodos de interrogatório falharem, a polícia resolveu pedir ajuda ao psiquiatra Alexander Bukhanovsky. Afinado com as técnicas mais avançadas dos norte-americanos, ele conseguiu fazer Chikatilo falar e ficou famoso.

Rostov ganha fama pelos serial killers

Em uma entrevista para a revista “Newsweek” em 1999, Bukhanovsky defendeu que não há motivos específicos para Rostov produzir tantos assassinos em série. Para ele, a cidade simplesmente tem mais experiência em capturar serial killers e identificar e tratar pessoas com distúrbios que podem levá-los a cometer crimes em série. Mais deles entraram para as estatísticas, tornando-as naturalmente mais elevadas que no resto da Rússia.

Para o advogado criminalista Thiago Anastácio, a explicação de Bukhanovsky para a fama de Rostov faz sentido. Se uma determinada cidade ou país adquire conhecimento em serial killers, provavelmente irá capturar um número maior deles. O que não significa produzir um número maior de assassinos. Um local pode ter um número baixo de serial killers simplesmente porque a polícia ainda não foi capaz de descobri-los.

"É muito difícil identificar se uma cidade especifica reúne condições mais adequadas ao surgimento de serial killers. Precisamos fazer a seguinte pergunta: por que nessa cidade? O que aconteceu de diferente lá?", diz Anastácio. "Talvez a cidade tenha alguma característica específica que acione o gatilho mental do assassino".

O advogado ressalta também que o surgimento de serial killers não está ligado ao índice de criminalidade de um lugar. Ou seja, cidades violentas não necessariamente terão mais assassinos em série. "O serial killer não é o criminoso habitual ou ocasional. É um criminoso patológico. Mesmo que ele saiba o que está fazendo", explica Anastácio.

"O maníaco do parque (serial killer de São Paulo famoso nos anos 90), por exemplo, foi considerado uma pessoa sã pela Justiça. Mas alguém vai dizer que ele não carrega uma patologia?". 


Outros assassinos em série

Chikatilo pode ter sido o mais famoso serial killer da região, mas infelizmente não o único.

Anatoly Slivko

Outro exemplo é o sinistro serial killer Anatoly Slivko. Slivko esquartejou sete garotos vestidos de escoteiros entre 1964 e 1985. O uniforme de escoteiro era uma fixação do serial killer que, durante sua juventude, ejaculou ao assistir a uma horrível cena de um adolescente que vestia um uniforme de escoteiro e que foi esmagado em um acidente automobilístico.


Constantie Cheremukhin - O bárbaro

Cheremukhin atacou na mesma época em que Andrei Chikatilo vagava por Rostov e regiões em busca de vítimas. Duas vítimas de Cheremukhin, inclusive, foram confundidas por alguns investigadores do caso Estripador da Floresta como vítimas de Chikatilo. Assim como Chikatilo, Cheremukhin cortava os seios e os órgãos genitais de suas vítimas mulheres.

Nascido no final dos anos 30, Constantino Cheremukhin, assim como Chikatilo, pertenceu a geração das “crianças da guerra”, e passou por todas as dificuldades que uma guerra pode trazer. Fascinado por tecnologia, seu sonho na adolescência era ter uma moto, desejo que logo se estendeu a um carro. Ter um carro na pobre sociedade soviética da década de 1960 era sinônimo de status e riqueza. Não podendo ter um, Cheremukhin decidiu entrar para o mundo do crime. Sua primeira prisão aconteceu devido ao roubo de um carro. Contribuiu também para a sua vida criminosa a descoberta de que o seu pai, na verdade, não era o seu pai biológico. O homem que o criou, e que ele acreditava ser o seu pai, era estéril. Sua mãe o tivera com um dos seus amantes, descoberta que o fez despertar ódio pelas mulheres. Mas o ódio contras mulheres não o impediu de casar com uma que conheceu na prisão. Decidido a se ajustar na vida, ele começou a trabalhar e mudou-se com sua esposa para a cidade de Bataysk. Pelo seu empenho, ganhou um carro da família, um belo Lada. E é com este mesmo Lada que Cheremukhin andava pelas ruas de Bataysk em busca de vítimas; meninas na pré-adolescência. Uma foi afogada, outra estrangulada, outra morta com uma chave de fenda… quatro mortes no total. 

Bukhanovsky o examinou em 1989, ano de sua detenção, e considerou-o são. Constantine Cheremukhin, “O Bárbaro”, foi executado em 1993 com um tiro atrás de sua orelha direita.

Yuri Leonidovich Tsyuman - Besta de Taganrog

O ano de 1990 foi bastante movimentado para a polícia de Rostov. Desesperados pela onda de crimes de um serial killer conhecido como O Estripador da Floresta, eles ainda tiveram que lidar com um outro serial killer, que estava cometendo bizarros assassinatos em Taganrog, uma das cidades satélites de Rostov-on-Don.

No início de 1990, o corpo de uma jovem mulher foi encontrado queimado dentro de sua própria casa. Ela estava amarrada e o médico legista concluiu que ela sofrera violência sexual e fora estrangulada. Em 13 de maio de 1990, foi a vez do corpo de uma estudante de 16 anos, Anna Linerberger, ser encontrado em um beco próximo a sua casa. Ela havia sido espancada, estuprada e estrangulada com sua própria blusa. Seu corpo nu, estava vestido apenas com uma meia-calça preta.

Duas semanas depois, Irene Revyakin, 15 anos, foi encontrada morta num terreno baldio perto de sua casa. Mais uma vez, o corpo nu estava vestido apenas com uma meia-calça preta. Parecia que a meia-calça preta era a assinatura de um serial killer.

Em setembro de 1990, Olga Kudimova, 20 anos, foi estuprada e morta perto de uma fábrica. Mais uma vez, meias-calças pretas estavam vestidas no cadáver nu. Após o quarto assassinato, o serial killer parou, mas voltou em 1992, quando fez sua quinta vítima, Olga Novikova. Bukhanovsky chegou a traçar um perfil psicológico da “Besta de Taganrog”, e dentre outras coisas, disse que o serial killer era um fetichista que obtinha prazer sexual ao colocar meias-calças pretas nas vítimas. Segundo Bukhanovsky, ele também poderia estrangulá-las com a mesma meia-calça.

Apesar do trabalho de Bukhanovsky, foi o serial killer quem cometeu um erro e facilitou o trabalho da polícia.

Um detetive andava pela periferia de Taganrog quando percebeu vários homens espancando um outro. Ao aproximar-se, os homens lhe disseram que aquele homem ali caído no chão tentara puxar uma garota para um beco e esta começou a gritar histericamente. Era o fim para a Besta de Taganrog.

Ele era Yuri Leonidovich Tsyuman, 23 anos. Vindo de um lar violento, Yuri viveu na pobreza e era constantemente abusado pelos pais, dois alcoólatras crônicos. Sentia muita vergonha perante os vizinhos devido aos inúmeros escândalos dos seus pais. Apanhava do pai e era ameaçado de morte por sua mãe, caso a desrespeitasse. Pior do que isso foi o fato da sua mãe levar homens para casa e fazer sexo com eles na sua frente, durante a época em que seu pai estava preso por roubo.

Não nos surpreenderia que Yuri Tsyuman crescesse um homem paranoico e agressivo, principalmente quando ele tomava contato com algo muito comum entre os russos: a vodka. Devido à sua instabilidade psicológica, teve uma primeira experiência sexual desastrosa, fato que o acompanhou por toda sua vida. Yuri gostava bastante de filmes de terror, não perdia um, seus filmes prediletos eram os de maníacos assassinos, e isso foi algo que contribuiu negativamente para o que viria a seguir.

Após sua prisão, ele disse a Bukhanovsky que: “Eu queria uma mulher, estuprada e morta. A manipulação das meias era um fator estimulante, as pernas das mulheres ficavam mais atraentes com as meias-calças. Quando ela estava morta, emoção e raiva diminuíam, sentia alívio.”

Yuri Tsyuman tentou simular que era insano, mas Bukhanovsky o considerou são, e mesmo mostrando arrependimento e pedindo misericórdia, ele foi condenado a morte. A pena foi comutada para prisão perpétua e ele atualmente está na prisão de Novocherkassk, a mesma onde Andrei Chikatilo, Anatoly Slivko, Constantine Cheremukhin e tantos outros serial killers da região foram executados. Num programa de TV da rede russa HTB, em 2005, ele disse: “É melhor a morte do que uma sentença de vida.”

Vladimir Anatolyevich Muhankin

Nascido em 22 de abril de 1960, Vladimir Anatolyevich Muhankin assustou Rostov em meados dos anos de 1990. Vindo de um lar desfigurado, sofreu abusos e desde cedo mostrou um comportamento criminoso. Como muitos psicopatas serial killers, começou torturando animais na infância. Gostava de esfaquear gatos e galinhas. Também gostava de espancar cavalos e vacas. Ao entrar na adolescência começou a praticar pequenos furtos e ficava dias nas ruas. Nos seus primeiros 35 anos de vida, passou 18 anos na cadeia.

Em 1995, após passar uma temporada na prisão, começou uma onda macabra de assassinatos. Em dois meses, assassinou sete mulheres e um homem (algumas fontes dizem 11 mulheres e 1 homem). Gostava de dissecar os corpos de suas vítimas e muitas vezes dormia em sua cama com os órgãos retirados dos cadáveres. Em algumas ocasiões, deixava poemas nos locais dos crimes. O trecho de um pode ser lido abaixo:

“Aparecendo no céu, a lua é jovem,
As corujas choram em algum lugar,
Depois de dar à luz,
Você sempre levará alegria na vida,
Mas há sofrimento no mundo …”

Muhankin foi preso depois que uma vítima conseguiu escapar. Durante os interrogatórios, o serial killer se comportava de maneira provocativa, não expressou nenhum remorso por seus crimes e chegou a dizer que era um “discípulo de Chikatilo”. Mas ao mesmo tempo que dizia ser um discípulo do maior serial killer da história da Rússia, Muhankin dizia que Chikatilo era um “frango” perto dele. Seus crimes eram um reflexo do ódio que ele sentia por sua mãe. Ao matar mulheres, era o mesmo que matá-la. Bukhanovsky o considerou são e ele pediu clemência no tribunal de Rostov. Mas clemência é algo que os russos não tem, principalmente com maníacos. Ele foi condenado a morte, pena que posteriormente foi comutada para prisão perpétua. Atualmente ele faz companhia para a Besta de Taganrog Yuri Tsyuman em Novocherkassk.

Vladimir Vasilevich Krishtopa

O erro do serial killer ucraniano Vladimir Vasilevich Krishtopa foi se estabelecer em Rostov após fugir da Ucrânia após cometer quatro assassinatos em série. Ele não sabia, mas foi direto para as mãos de uma das mais especializadas polícias no mundo no que diz respeito a serial killers. E mesmo assim, ele ainda conseguiu cometer dois assassinatos em Rostov, antes de ser pego tentando matar a terceira.

Vindo de uma família de pais carinhosos e presentes, Krishtopa viveu uma vida de classe média na Ucrânia, tocava guitarra e parecia destinado a uma brilhante carreira na medicina, área a qual seus pais fizeram carreira. Mas havia algo de errado com ele, e ninguém percebeu isso. Como muitos serial killers, para espantar os seus pensamentos, começou a beber. E foi embriagado que ele cometeu os seus seis assassinatos. Após estuprar, torturar e assassinar quatro mulheres na Ucrânia, ele se estabeleceu em Rostov. Em 17 de junho de 1995, assassinou sua quinta vítima. Um mês depois, a sexta. A casa caiu para o maníaco quando, em 06 de agosto de 1995, ele foi preso em flagrante tentando assassinar sua terceira vítima em Rostov.

Bukhanovsky o considerou são e o tribunal de Rostov condenou-o a morte, pena que posteriormente foi comutada para prisão perpétua.

Em 2005, um documentário da rede de TV russa HTB intitulado O Nascimento de um Maníaco, o entrevistou na prisão.

“Ele entrou dentro de mim. Eu sei que se eu tivesse conhecido Bukhanovsky antes, teria sido curado. Estou 100 por cento certo disso” , disse ele sobre o psiquiatra Alexander Bukhanovsky.

Sobre seus crimes, Krishtopa coloca a culpa na bebida. “Mas eu bebi uma garrafa de vodka antes do meu primeiro assassinato, e então eu estrangulei minha vítima com uma jaqueta da Reebok” , diz ele.

No documentário, Bukhanovsky diz que muitos serial killers bebem como uma forma de facilitar o assassinato.

“Você esquece que um assassino, muitas vezes, está num estado de embriaguez. Ele precisa matar em uma posição de esquecimento para sua alegria plena, imaculada por dúvidas morais. Ele é um senhor de um escravo. Ele não considera a vítima como um indivíduo. Assassinos múltiplos sentem uma relaxante e enorme tensão após o ato de matar, e isso cria uma auto-crença de que isso é necessário. Até mesmo serial killers tem um tipo de hierarquia e contorcidos limites morais”, diz Bukhanovsky.

“Diga a minha mãe e ao meu pai que eu os amo. Você sabe, ambos são médicos e eu não posso desfazer sua dor”, diz Krishtopa para o repórter ao fim de sua entrevista.

Atualmente Vladimir Krishtopa é vizinho de cela do seu xará Vladimir Muhankin, “O Discípulo de Chikatilo”, em Novocherkassk.

Roman Vladimirovich Burtsev - o matador de Kamensk

Kamensk é uma cidade pertencente a região de Rostov Oblast, e fica ao norte de Rostov. Em 1993, estranhos desaparecimentos de crianças intrigaram as autoridades da região. Em setembro daquele ano, os irmaos Churilov Eugene, 12 anos, e Olesya Eugene, 7 anos, desapareceram sem deixar rastros. Uma grande investigação foi feita, mas nenhum vestígio dos irmãos foi descoberto. No dia em que o italiano Roberto Baggio errava um pênalti e o Brasil ganhava a Copa do Mundo dos Estados Unidos, 17 de julho de 1994, a adolescente Marina Alekseey, 12 anos, desaparecia. Quase um ano depois, em 23 de maio de 1995, foi a vez de Anya Kulinkinu, 09 anos, desaparecer. Passou-se mais um ano e, em julho de 1996, duas outras crianças desapareceram de Kamensky.

As investigações da polícia sobre os desaparecimentos eram complexas já que não haviam testemunhas. As crianças simplesmente desapareceram. A inteligência policial acreditava que elas poderiam ter sido vítimas de um maníaco, um serial killer, mas como ter certeza se nenhum corpo era encontrado?

As dúvidas foram sanadas no dia 20 de novembro de 1996 quando um pacato funcionário de uma fábrica da cidade, Roman Vladimirovich Burtsev, 25 anos, foi preso. Com muito custo, ele confessou o assassinato de seis crianças entre 1993 e 1996. Burtsev estuprava, torturava e asfixiava suas vítimas. Cuidadoso, ele enterrava as vítimas para que não fossem encontradas, mas cometeu um erro ao enterrar numa cova rasa sua última vítima. O corpo de Natasha Kirbabinoy, foi encontrado numa floresta e testemunhas lembraram de um jovem numa bicicleta que havia pedido uma pá emprestada.


Como muitos serial killers, Burtsev era um homem acima de qualquer suspeita. Vindo de uma família aparentemente normal, era casado, não bebia, não fumava e tinha um currículo limpo na escola e exército. Mas por dentro tinha um mórbido interesse em crianças.

Alexandr Bukhanovsky o examinou e concluiu que Burtsev não sofria de doença mental, tampouco demência. No momento dos crimes, Burtsev não tinha qualquer anormalidade que afetasse sua capacidade de avaliar o que estava fazendo, ou seja, ele estava plenamente consciente dos seus atos e podia controlá-los. Como muitos serial killers, Burtsev tinha complexo de inferioridade e a falta de carinho e amor durante sua infância criou uma espécie de ressentimento que o fez querer vingar de crianças.

Em 1997, Roman Vladimirovich Burtsev foi condenado à morte pelo tribunal de Rostov. Pena que mais tarde foi comutada para prisão perpétua.


Igor Elizarov

O caso de Igor Elizarov é muito interessante. Interessante porque, em sua infância, Igor foi um paciente do psiquiatra Alexander Bukhanovsky. Igor interrompeu o seu tratamento e, ao ficar adulto, tornou-se um serial killer.

Igor Elizarov nasceu em 1979 e viveu toda sua vida em Rostov. Qual a brincadeira preferida do pequeno Igor quando criança? Matar e mutilar seus animais de estimação. Gatinhos, cachorros e os seus preferidos, os ouriços. Ele gostava de empalá-los. Aos 12 anos, sua mãe ficou em estado de choque quando o pegou matando um gato e se masturbando ao mesmo tempo. Ela, claro, o levou a um psiquiatra. Quem? Alexander Bukhanovsky.

Nessa época, 1992, Bukhanovsky já era nacionalmente conhecido pelo seu trabalho no caso Andrei Chikatilo, e a sua clínica era a única na Rússia a tratar de pessoas com problemas graves de saúde mental.

E Bukhanovsky conseguiu extrair os mais perversos desejos do garoto. Para o psiquiatra, Igor disse que tinha um desejo enorme em matar pessoas.

“Ele era acompanhado por dois especialistas, uma psiquiatra infantil e um psicoterapeuta. Ele era um excelente paciente, muito inteligente”, disse Bukhanovsky sobre Igor.

Sabendo do seu diagnóstico, Igor começou a estudar toda literatura disponível sobre psicopatas e serial killers. Certa vez, disse a Bukhanovsky sobre o seu medo de torna-se um deles. Com seu comportamento aparentemente sob controle, Igor decidiu abandonar o tratamento na Phoenix. Era o começo do seu fim.

Colocou fogo em várias lojas de Rostov, um comportamento comum a muitos serial killers, e tentou organizar um acidente ferroviário colocando pedras nos trilhos de um trem. Além disso, Igor começou a frequentar cemitérios da região e tinha prazer em acompanhar o funeral de mulheres. Logo, ele passou para o passo seguinte. Não satisfeito em acompanhar os funerais, Igor começou a cavar as covas das mulheres recém enterradas para se masturbar em cima dos cadáveres. Ele voltou para a Phoenix e experimentou uma melhora. Deixou de ter um comportamento anti-social, formou-se em economia e até namorou sério com uma garota. Pensando estar bem, Igor mais uma vez decidiu largar seu tratamento e as drogas que usava.

Sua namorada o deixou e ele decidiu não trabalhar com economia, mas em outra área. Qual área? Funcionário de necrotério. Claro, assim ele poderia ficar mais perto de cadáveres. Começou a roubar dinheiro do necrotério e passou a beber vodka para espantar seus diabólicos pensamentos. E como muitos serial killers, ele estava bêbado quando assassinou sua primeira vítima, um mendigo bêbado que ele encontrou num cemitério de Rostov. Um ano depois, ele estuprou e estrangulou um menino de cinco anos. Não preciso dizer que ele fez sexo com o cadáver do garoto. Mais um tempo depois e ele assassinou outra criança de 06 anos.

“Ele matava pessoas aleatórias para efeitos de necrofilia”, disse um trecho do processo do tribunal de Rostov.

O homem calmo e muito inteligente, surpreendeu o Juiz de Rostov, Boris Grigoriev. Por questões éticas, Bukhanovsky não entrevistou seu ex-paciente e outro psiquiatra considerou-o são, mas com transtorno de personalidade. Igor foi condenado a 15 anos de prisão.

“Por natureza, Igor Elizarov era um assassino. As pessoas acreditam que o diagnóstico de transtornos mentais típicos, como os presentes em serial killers, só podem ser diagnosticados em adultos. Isto é fundamentalmente errado. Serial killers e maníacos vem desde a infância. A doença começa quando há cruéis fantasias sádicas que ao longo do tempo tornam-se mais e mais violentas. Igor Elizarov é um exemplo de como um maníaco serial killer pode começar seu caminho sangrento desde muito cedo. Infelizmente, nossos estudos sobre essas pessoas ainda estão no início. Uma vez, em um programa de televisão, me perguntaram: ‘Quanto tempo você trabalhará com serial killers para saber como curá-los?’ Honestamente eu respondi: ‘Não sei’.”
[Alexander Bukhanovsky]

Possíveis Serial Killers

Outro paciente tratado por Bukhanovsky foi Edward. Edward descobriu que era necrófilo aos 11 anos de idade. E já nessa idade começou a desenterrar corpos de mulheres em cemitérios para fazer sexo. Um comportamento que, claramente, poderia levá-lo a se tornar um assassino em série. Muitos criminosos cometeram seus crimes para satisfazer seus desejos necrófilos, alguns casos famosos são: O norte americano Ed Gein e os Irmãos necrófilos brasileiros. Como muitos psicopatas, Edward apresentava uma disfunção cerebral. 

“Na Rússia, há uma incidência muito grande de defeitos do cérebro devido aos partos particulares em aldeias isoladas”, diz Bukhanovsky. 

Outro homem que poderia ter se tornado uma serial killer e que frequentou a clínica de Bukhanovsky foi Igor. Igor tinha uma característica que Bukhanovsky encontrou nas dezenas de serial killers que tratou: o sentimento de humilhação. Não confunda esse paciente com Igor Elizarov citado mais acima.

“O assassino em série emergente não tem inteligência para lidar com um fator chave: a humilhação. Nunca se esqueça, a humilhação é a chave para desvendar por que homens matam repetidamente. Sem a minha ajuda, eles vão buscar vingança pela falta de poderes durante a infância”, diz Bukhanovsky. 

Igor tem, talvez, as maiores orelhas da Rússia, orelhas as quais ele detesta, juntamente com o seu corpo esguio. Consequentemente, Igor, 22 anos na época em que começou a ser tratado por Bukhanovksy, ainda era virgem e possuía uma baixa auto-estima. Ele passou sua infância matando os animais de estimação da família. Como todos os pacientes de Bukhanovsky, Igor parece banal, muitas pessoas olhariam para ele e não dariam nada. 

“Eu quero perseguir uma garota, mas ela deve ser bastante sexy. Eu colocaria clorofórmio em um pano molhado antes de estuprá-la, afinal, ela é uma vadia!”, disse ele a Bukhanovsky em um dos seus encontros.

Depois de dizer essa frase ao psiquiatra, Igor juntou os dedos das mãos, de forma a formar um cano de revólver, mirou o chão, e puxou o gatilho. Levantou a arma simulada para a boca e soprou as nuvens de fumaça.

“Mas o pior de todos é Misha”, diz Bukhanovsky.

Misha ilustra o quão longe Bukhanovsky foi (o psiquiatra faleceu em abril de 2013) com seus tratamentos. O jovem, de 22 anos, tinha três estupros nas costas. Em todos os casos ele torturou horrivelmente suas vítimas. Bukhanovsky diz que criminosos como Misha raramente sentem pena, exceto por eles mesmos.

O segredo fato de Bukhanovsky ter o dever profissional de manter segredo em relação as conversas com seus pacientes, acaba fazendo com que muitas dessas histórias não seja levada até a polícia. Entretanto, as autoridades da cidade não gostam nenhum pouco disso. “Este paciente, que ele chama de Misha, estuprou várias mulheres, e isso é um crime e não deve ser escondido,” disse Amuhan Yandiev, Tenente-Chefe da polícia de Rostov, para a Newsweek em 1999.

“Nenhum desses jovens têm reincidência nos últimos sete meses. É melhor do que tê-los lá fora, na cidade. Se pudermos entender o que está por trás da natureza irreprimível de matar, então nós vamos saber sobre as razões por trás de todos os níveis de crimes violentos”, defende-se Bukhanovsky.

Bukhanovsky continuou seu trabalho com psicopatas, assassinos e serial killers em sua clínica, a Phoenix, até 2013, ano em que faleceu. Sua filha Olga Bukhanovsky que, em 1999, foi escolhida como um dos 100 mais promissores psiquiatras jovens do mundo, durante uma competição promovida pela Associação Mundial de Psiquiatria em Hamburgo na Alemanha, atualmente é a presidente da clínica.
By: Elson Antonio Gomes

Fontes: UOL e O Aprendiz Verde

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